30 de junho de 2024

FESTAS DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Constitues eos principes super omnem terram — “Estabelecê-los-ás príncipes sobre toda a terra” (Sl 44, 17)
Sumário. A eleição destes dois varões para príncipes dos apóstolos foi um dom todo gratuito de Deus e um puro rasgo da misericórdia divina. Mas eles corresponderam perfeitamente a um favor tão assinalado pela prática de todas as virtudes e especialmente pelo zelo da glória divina e da salvação das almas. Nós também, apesar da nossa indignidade, recebemos de Deus grandes favores. Mas como lhes temos correspondido? Sejamos para o futuro mais diligentes e imitemos estes nossos grandes protetores.
I. CONSIDERA QUE A eleição destes dois varões para principes dos apóstolos foi um dom todo gratuito de Deus e um puro rasgo da misericórdia divina. Mas eles também corresponderam perfeitamente a um favor tão assinalado pela prática de todas as virtudes, especialmente pelo zelo da glória divina e da salvação das almas.
Já antes da sua queda se mostrara São Pedro sempre apóstolo zelosíssimo, muito mais porém depois da queda, que ele chorou com lágrimas tão abundantes, até lhe gravarem sulcos nas faces. — Depois de Pentecostes começou ele logo, o primeiro dos apóstolos, a desempenhar a sua missão, e com resultado tal, que com um só sermão converteu cerca de três mil pessoas (At 2, 41); compensando com este número a tríplice negação do seu divino Mestre. E daquele dia em diante trabalhou incansavelmente durante mais de trinta anos, e sempre com a mesma abundância de frutos. — Continuou o seu apostolado mesmo na prisão Mamertina, onde converteu os guardas, continuou-o ainda sobre a cruz, tendo a sorte feliz de morrer como Jesus Cristo.
A vida de São Paulo, depois da sua conversão prodigiosa, pode igualmente chamar-se um apostolado contínuo, e portanto um contínuo martírio. Pelo que ele mesmo, constrangido a dar uma resenha das suas missões, pôde atestar na presença de Deus, que trabalhara mais do que todos os outros apóstolos, que suportara cárceres e açoites, e para a glória de Deus fôra exposto a toda a espécie de perigos (2Cor 11, 5).
Numa palavra, destes dois apóstolos, mais do que dos outros, se pode dizer que o Senhor, na sua bondade, os estabeleceu príncipes sobre toda a terra e que eles, pela sua fiel cooperação, se fizeram pregoeiros dos louvores de Deus: Constitues eos principes super omnem terram... In fines orbis terrae verba eorum (S1 44, 17). — Alegra-te com estes teus grandes Protetores, e dá graças a Deus pelos favores a eles concedidos.
Il. Se examinares a tua consciência, verás que também tu, apesar de teus deméritos, tens recebido de Deus grandes favores. Mas como lhes correspondeste? Como desagravaste a Deus de teus pecados?... Que fizeste até agora pela salvação do próximo? — Eis aí o fruto que deves colher da solenidade de hoje. Esforça-te por imitar as virtudes destes dois apóstolos, e em particular o seu zelo pela glória divina e pela salvação das almas.
+ “Ó santos apóstolos Pedro e Paulo, eu vos escolho hoje e para sempre para meus especiais protetores e advogados; e humildemente me alegro, assim convosco, ó glorioso São Pedro, Príncipe dos apóstolos, por serdes aquela pedra sobre a qual Deus edificou a sua Igreja; como convosco, ó Bem-aventurado São Paulo, escolhido por Deus para vaso de eleição e pregador da verdade em todo o mundo. Eu vos rogo que me alcanceis viva fé, firme esperança e caridade perfeita, total desapego de mim mesmo, desprezo do mundo, paciência nas adversidades e humildade nas prosperidades, atenção na oração, pureza de coração, reta intenção nas obras, diligência no cumprimento das obrigações do próprio estado, constância nos propósitos, resignação na vontade de Deus, e perseverança na divina graça até a morte, para que, mediante vossa intercessão e gloriosos merecimentos, vencidas as tentações do demônio, do mundo e da carne, eu me torne digno de aparecer na presença do supremo e eterno Pastor das almas, Jesus Cristo, que com o Pai e com o Espírito Santo vive e reina por séculos de séculos, para o gozar e amar eternamente”.
“E Vós, ó Senhor, que santificastes o dia presente com o martírio dos vossos apóstolos Pedro e Paulo: fazei que a vossa Igreja siga em tudo os preceitos daqueles que foram os seus primeiros ministros”. Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo, vosso divino Filho, e pela intercessão de Maria Santíssima, nossa querida Mãe.

SEXTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

💚 Paramentos verdes. 

Um único pensamento domina toda a liturgia deste dia: devemos destruir o pecado dentro de nós com profundo arrependimento e pedir a Deus que nos dê forças para não cair nele. O Batismo fez-nos morrer para o pecado e a Eucaristia dá-nos a força divina necessária para perseverar no caminho da virtude. A Igreja, ainda imbuída da memória destes dois Sacramentos que conferiu na Páscoa e no Pentecostes, também gosta de falar deles “no tempo depois do Pentecostes”. As lições do Primeiro Noturno, lidas no Breviário, contam, na forma de um pedido de desculpas, a gravidade da culpa cometida por David. Por mais piedoso que fosse, este grande rei permitiu que o pecado entrasse em seu coração. Querendo se casar com uma jovem de grande beleza, chamada Bete-Seba, ele ordenou que o marido dela, Urias, fosse enviado para ser o mais forte na luta contra os amonitas, para que fosse morto. Tendo assim se livrado dele, casou-se com Bete-Seba, que já havia concebido dele um filho. O Senhor enviou o profeta Natã para lhe dizer: «Havia dois homens na cidade, um rico e outro pobre. O rico tinha ovelhas e bois em grande número, o pobre não tinha absolutamente nada, exceto uma ovelhinha, que ele comprou e criou, e que cresceu com ele junto com seus filhos, comendo seu pão, bebendo de seu copo. e dormindo em seu peito: ela era como uma filha para ele. Mas quando um estranho chegou ao homem rico, ele, não querendo sacrificar nem mesmo uma ovelha do seu rebanho para preparar um banquete para o seu convidado, raptou as ovelhas do homem pobre e as serviu à mesa.” Davi ficou indignado e exclamou: “Como é verdade que o Senhor está vivo, este homem merece a morte”. Então Natã disse: “Este homem é você, pois você tomou a mulher de Urias para ser sua esposa, quando você poderia ter escolhido uma noiva entre as jovens filhas de Israel. Portanto, diz o Senhor, levantarei contra você uma calamidade da parte de sua própria família (Absalão). Davi então se arrependeu e disse a Natã: “Pequei contra o Senhor”. Nathan continuou: «Porque você está arrependido, o Senhor te perdoa; Você não vai morrer. Mas aqui está o castigo: o filho que você nasceu morrerá." Na verdade, algum tempo depois o menino morreu. E David, humilhado e arrependido, foi prostrar-se na casa do Senhor e cantou canções de penitência (Communio). «Davi, este rei tão grande e poderoso, diz Santo Ambrósio, não consegue manter dentro de si nem por pouco tempo o poder, pecado que pesa na sua consciência: mas com uma confissão pronta, e com imenso remorso, ele confessa o seu pecado ao Senhor. Então o Senhor, diante de tanta dor, o perdoou. Pelo contrário, os homens, quando os sacerdotes têm oportunidade de os repreender, agravam o seu pecado tentando negá-lo ou desculpá-lo; e cometem uma falta mais grave, ali mesmo ond eles deveriam ter se levantado. Mas os Santos do Senhor, que ardem no desejo de continuar a santa luta e de terminar a vida de forma santa, se por acaso pecarem, mais pela fragilidade da carne do que pelo pecado deliberado, levantam-se novamente mais ardentes na corrida e, estimulados pela vergonha, reparam a queda com as lutas mais duras; de modo que sua queda, em vez de ter sido causa de atraso, nada mais fez do que estimulá-los e fazê-los avançar mais rapidamente". Disto compreendemos a escolha da Epístola em que São Paulo fala da nossa morte para o pecado. No Batismo fomos sepultados com Cristo, a nossa velha humanidade foi crucificada com ele para que pudéssemos morrer para o pecado. E assim como Jesus saiu do túmulo após a ressurreição, também devemos trilhar um novo caminho, viver para Deus em Jesus Cristo (Epístola). E se tivermos a infelicidade de cair novamente no pecado, devemos pedir a Deus a graça de nos ajudar a libertar-nos dele (verso do Intróito, Graduale, Aleluia, Secreta), devolvendo-nos a graça do Espírito Santo, pois todo dom perfeito vem dele (Oratio). 
Depois devemos aproximar-nos do altar (Communio) para receber a Eucaristia cuja virtude divina nos fortalecerá contra os nossos inimigos (Postcommunio) e nos manterá no fervor da piedade (Oratio), pois o Senhor é a força do seu povo que o conduzirá para sempre (Intróito). Por isso a Igreja escolheu para o Evangelho a narrativa da multiplicação dos pães, figura da Eucaristia, que é o nosso viático. A comunhão, identificando-se com a vítima do Calvário, não só aperfeiçoa em nós os efeitos do Baptismo, fazendo-nos morrer com Jesus para o pecado, mas faz-nos encontrar no santo banquete a força necessária para não cairmos novamente no pecado e para “consolidar os nossos passos nos caminhos do Senhor” (Ofertorium). E neste sentido Santo Ambrósio comenta este Evangelho. Cristo disse: «Não quero mandá-los embora em jejum, com medo de que morram no caminho. O Senhor cheio de bondade sustenta as forças; se alguém sucumbir, não será por causa do Senhor Jesus, mas por causa dele mesmo. O Senhor coloca em nós elementos fortificantes; seu alimento é força, seu alimento é vigor. Assim, se por sua negligência perdeste a força que recebeu, não deve culpar os alimentos celestiais que não faltaram, mas a si mesmo. Pois Elias, quando estava prestes a sucumbir, não caminhou mais quarenta dias, tendo recebido alimento de um anjo? Se você guardou o alimento que recebeu, caminhará quarenta anos e sairá da terra do Egito para chegar à imensa terra que Deus prometeu aos nossos Pais”. No Intróito. O verso Salvum fac do Introit é encontrado no Te Deum, onde Deus é solicitado a nos preservar do pecado. Enxertados em Cristo, todos os seus mistérios devem ser reproduzidos em nós, com Ele devemos morrer para o pecado e com Ele viver uma vida completamente nova. Salmo de Davi, que expressa o tratamento recebido de inimigos implacáveis ​​e a confiança inabalável do salmista em Deus. Ao Evangelho, Jesus tem compaixão da multidão e dá comida a 4.000 homens, sem os quais “eles teriam desmaiado no caminho”. «Tomou os sete pães, deu graças a Deus, partiu-os, deu-os aos seus discípulos para que os distribuíssem, e eles os distribuíram à multidão» (Evangelho). Este milagre está de alguma forma ligado à promessa da instituição da SS. Sacramento. Assim, quando Jesus o realizou na Última Ceia, São Paulo escreve que: «tomou o pão e deu graças, partiu-o e disse: Tomai e comei: este é o meu Corpo»; e acrescentando: “Fazei isto em memória de mim”, ordenou aos Apóstolos e aos seus sucessores que consagrassem da mesma forma o pão sobrenatural, que deve sustentar as almas, e o distribuíssem por toda a terra até ao fim dos tempos. Este pão divino é um viático tanto no caminho desta vida como no caminho das almas para a eternidade, daí o nome de viático à Eucaristia recebida no momento da morte.

MISSAE PROPRIUM

INTROITUS
Ps 27:8-9- Dóminus fortitudo plebis suæ, et protéctor salutárium Christi sui est: salvum fac pópulum tuum, Dómine, et benedic hereditáti tuæ, et rege eos usque in saeculum. ~~ Ps 27:1- Ad te, Dómine, clamábo, Deus meus, ne síleas a me: ne quando táceas a me, et assimilábor descendéntibus in lacum. ~~ Glória ~~ Dóminus fortitudo plebis suæ, et protéctor salutárium Christi sui est: salvum fac pópulum tuum, Dómine, et benedic hereditáti tuæ, et rege eos usque in saeculum.

Ps 27:8-9- O Senhor é a força do seu povo, e um guardião curador do seu Ungido: salva, ó Senhor, o teu povo, e abençoa os teus filhos, e governa-os até o fim dos tempos. ~~ Sl 27:1- Ó Senhor, eu te invoco, ó meu Deus: não fiques calado comigo, para que pelo teu silêncio eu não me pareça com aqueles que descem à sepultura. ~~ Glória ~~ O Senhor é a força do seu povo, e um guardião saudável para o seu Ungido: salva, ó Senhor, o teu povo, e abençoa os teus filhos, e governa-os até o fim dos tempos.

GLORIA

ORATIO
Orémus.
Deus virtútum, cuius est totum quod est óptimum: ínsere pectóribus nostris amórem tui nóminis, et præsta in nobis religiónis augméntum; ut, quæ sunt bona, nútrias, ac pietátis stúdio, quæ sunt nutríta, custódias. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos
Ó Deus todo-poderoso, a quem pertence tudo o que é excelente: instila em nossos corações o amor do teu nome e aumenta em nós a virtude da religião; para que você alimente tudo de bom que há em nós e, com a prática da piedade, preserve o que você nutriu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

LECTIO
Léctio Epístolæ beáti Pauli Apóstoli ad Romános 6:3-11
Fratres: Quicúmque baptizáti sumus in Christo Iesu, in morte ipsíus baptizáti sumus. Consepúlti enim sumus cum illo per baptísmum in mortem: ut, quómodo Christus surréxit a mórtuis per glóriam Patris, ita et nos in novitáte vitæ ambulémus. Si enim complantáti facti sumus similitúdini mortis eius: simul et resurrectiónis érimus. Hoc sciéntes, quia vetus homo noster simul crucifíxus est: ut destruátur corpus peccáti, et ultra non serviámus peccáto. Qui enim mórtuus est, iustificátus est a peccáto. Si autem mórtui sumus cum Christo: crédimus, quia simul étiam vivémus cum Christo: sciéntes, quod Christus resurgens ex mórtuis, iam non móritur, mors illi ultra non dominábitur. Quod enim mórtuus est peccáto, mórtuus est semel: quod autem vivit, vivit Deo. Ita et vos existimáte, vos mórtuos quidem esse peccáto, vivéntes autem Deo, in Christo Iesu, Dómino nostro.

Leitura da Epístola de São Paulo Apóstolo aos Romanos 6:3-11
Irmãos: Todos nós que fomos batizados na Sua morte, por isso fomos sepultados com Ele pelo batismo: para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos para a glória do Pai, assim também nós sejamos ressuscitados para uma nova vida. Com efeito, se estivéssemos unidos a ele para crescer com ele pela semelhança da sua morte: igualmente estaremos unidos a ele pela semelhança da sua ressurreição. Isto nós sabemos: que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos mais ao pecado. Pois quem está morto é justificado pelo pecado. Agora, se morremos com Cristo, acreditamos que viveremos com Cristo: sabendo que Cristo, ressuscitando dos mortos, não morre mais e que a morte não terá mais poder sobre ele. Porque a sua morte foi uma morte para o pecado para sempre; mas a sua vida é uma vida para Deus. Assim também vós considerais-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.

GRADUALE
Ps 89:13; 89:1
Convértere, Dómine, aliquántulum, et deprecáre super servos tuos.
V. Dómine, refúgium factus es nobis, a generatióne et progénie.

Volte-se um pouco para nós, ó Senhor, e tenha paz com seus servos.
V. Senhor, Tu és o nosso refúgio, de geração em geração.

ALLELUIA
Allelúia, allelúia
Ps 30:2-3
In te, Dómine, sperávi, non confúndar in ætérnum: in iustítia tua líbera me et éripe me: inclína ad me aurem tuam, accélera, ut erípias me. Allelúia.

Aleluia , Aleluia
Tu, Senhor, esperei que não ficarei confuso para sempre: na tua justiça livra-me e afasta-me do mal: empresta-me o teu ouvido, apressa-te em libertar-me Aleluia. 

EVANGELIUM
Sequéntia ✠ sancti Evangélii secúndum Marcum 8:1-9
In illo témpore: Cum turba multa esset cum Iesu, nec haberent, quod manducárent, convocatis discípulis, ait illis: Miséreor super turbam: quia ecce iam tríduo sústinent me, nec habent quod mandúcent: et si dimísero eos ieiúnos in domum suam, defícient in via: quidam enim ex eis de longe venérunt. Et respondérunt ei discípuli sui: Unde illos quis póterit hic saturáre pánibus in solitúdine ? Et interrogávit eos: Quot panes habétis? Qui dixérunt: Septem. Et præcépit turbæ discúmbere super terram. Et accípiens septem panes, grátias agens fregit, et dabat discípulis suis, ut appónerent, et apposuérunt turbæ. Et habébant piscículos paucos: et ipsos benedíxit, et iussit appóni. Et manducavérunt, et saturáti sunt, et sustulérunt quod superáverat de fragméntis, septem sportas. Erant autem qui manducáverant, quasi quatuor mília: et dimísit eos.

Sequência ✠ do Santo Evangelho segundo São Marcos 8:1-9.
Naquele tempo: Quando uma grande multidão se reuniu em torno de Jesus, e não tendo o que comer, ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: Tenho compaixão deste povo, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer. ; e se eu os mandar de volta para suas casas em jejum, eles cairão no caminho, porque alguns deles vieram de longe. E os seus discípulos responderam-lhe: Como poderemos saciá-los de pão neste deserto? E ele lhes perguntou: Quantos pães vocês têm? E eles responderam: Sete. E ele ordenou que a multidão se sentasse no chão. E ele tomou os sete pães, deu graças e partiu-os e deu-os aos seus discípulos para que os distribuíssem, e eles os distribuíram à multidão. E eles tinham alguns peixinhos, e ele os abençoou também e ordenou que fossem distribuídos. E comeram, e ficaram satisfeitos, e com o que sobrou encheram sete cestos. Ora, os que comeram foram cerca de quatro mil; e ele os despediu.

Homilia de Santo Ambrósio bispo. Livro 6 ao capítulo 9 de Lucas.
"Depois que esta mulher, que representava a Igreja, foi curada da perda de sangue, depois que os Apóstolos foram escolhidos para evangelizar o reino de Deus, Jesus distribuiu o alimento de graça celestial. Mas observe a quem ele o dispensa. Não aos ociosos, não aos que ficam na cidade, isto é, aos que ficam na sinagoga ou têm prazer nas honras do mundo; mas para aqueles que buscam a Cristo mesmo no deserto. Aqueles que vencem toda repugnância são acolhidos por Cristo, com eles a Palavra de Deus conversa, não com os assuntos do mundo, mas com o reino de Deus. E se entre estes houver algum que esteja afligido por enfermidades corporais, ele imediatamente. concede-lhes o benefício da cura. Era, portanto, natural que ele guardasse o alimento espiritual de reserva para quebrar o jejum daqueles cujas feridas ele estava curando. Portanto, ninguém come o alimento de Cristo, a menos que primeiro seja curado; e aqueles que são convidados para o jantar são primeiro curados pelo chamado divino. Aquele que era coxo recebeu, para vir, a capacidade de andar: aquele que foi privado da visão dos olhos, certamente, não poderia entrar na casa do Senhor, exceto depois que a luz lhe fosse dada. uma ordem misteriosa sempre observada: primeiro a remissão dos pecados cura as feridas espirituais, depois o alimento da mesa celestial é generosamente concedido; e, no entanto, esta multidão ainda não é chamada a nutrir-se com alimentos mais substanciais, e esses corações, carentes de uma fé sólida, não são de forma alguma revigorados pelo corpo e pelo sangue de Cristo. «Eu te alimentei, diz o Apóstolo, com leite, não com alimentos sólidos; porque ainda não conseguistes digeri-lo, nem o podeis agora” (1 Coríntios 3:2). Aqui os cinco pães lembram o leite: o alimento mais substancial é o corpo de Cristo; a bebida mais revigorante é o sangue do Senhor. "

CREDO

OFFERTORIUM
Ps 16:5; 16:6-7
Pérfice gressus meos in sémitis tuis, ut non moveántur vestígia mea: inclína aurem tuam, et exáudi verba mea: mirífica misericórdias tuas, qui salvos facis sperántes in te, Dómine.

Faz com que os meus passos sejam firmes nos teus caminhos, para que os meus pés não vacilem: presta os teus ouvidos e responde à minha oração: faz brilhar as tuas misericórdias, ó Senhor, Tu que salvas aqueles que esperam em Ti.

SECRETA
Propitiáre, Dómine, supplicatiónibus nostris, et has pópuli tui oblatiónes benígnus assúme: et, ut nullíus sit írritum votum, nullíus vácua postulátio, præsta; ut, quod fidéliter pétimus, efficáciter consequámur. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Sê propício, ó Senhor, às nossas súplicas , e aceita graciosamente estas oblações do teu povo; e, para que os votos ou orações de ninguém sejam inúteis, concede que possamos realmente alcançar o que pedimos com confiança. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

PRÆFATIO DE SACRATISSIMO CORDE IESU
Vere dignum et iustum est, æquum et salutáre, nos tibi semper et ubíque grátias ágere: Dómine sancte, Pater omnípotens, ætérne Deus: Qui Unigénitum tuum, in Cruce pendéntem, láncea mílitis transfígi voluísti: ut apértum Cor, divínæ largitátis sacrárium, torréntes nobis fúnderet miseratiónis et grátiæ: et, quod amóre nostri flagráre numquam déstitit, piis esset réquies et poeniténtibus pater et salútis refúgium. Et ídeo cum Angelis et Archángelis, cum Thronis et Dominatiónibus cumque omni milítia coeléstis exércitus hymnum glóriæ tuæ cánimus, sine fine dicéntes: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dóminus, Deus Sábaoth. Pleni sunt cæli et terra glória tua. Hosánna in excélsis. Benedíctus, qui venit in nómine Dómini. Hosánna in excélsis.

É verdadeiramente digno e justo, oportuno e salutar que nós, sempre e em toda parte, te demos graças, ó Santo Senhor, Pai Todo-Poderoso, Deus Eterno: que quiseste que o teu Unigênito , pendurado na cruz, fosse trespassado pela lança do o soldado, para que aquele coração aberto, santuário da clemência divina, derramasse sobre nós torrentes de misericórdia e de graça; e que ela, que nunca deixou de arder de amor por nós, foi paz para as almas piedosas e um refúgio aberto de salvação para as almas penitentes . E portanto com os Anjos e os Arcanjos, com os Tronos e as Dominações, e com toda a milícia da hoste celeste, cantamos o hino da tua glória, dizendo sem fim: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus Eterno! O céu e a terra estão cheios da Tua glória! Hosana nas alturas! Bendito aquele que vem em Nome do Senhor! Hosana nas alturas!

COMMUNIO
Ps 26:6
Circuíbo et immolábo in tabernáculo eius hóstiam iubilatiónis: cantábo et psalmum dicam Dómino.

Contornarei o teu altar e oferecerei um sacrifício jubiloso no seu tabernáculo: cantarei e louvarei ao Senhor.

POSTCOMMUNIO
Orémus.
Repléti sumus, Dómine, munéribus tuis: tríbue, quaesumus; ut eórum et mundémur efféctu et muniámur auxílio. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos
Cheio , ó Senhor, dos teus dons, concede-nos, rogamos, que sejamos purificados pelo seu trabalho e sejamos defendidos pela sua ajuda. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

28 de junho de 2024

QUANTO AGRADA A JESUS A LEMBRANÇA DA SUA PAIXÃO

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Gratiam fideiussoris ne obliviscaris; dedit enim pro te animam suam — “Não te esqueças da graça que te fez teu fiador, pois ele expos sua alma para te valer” (Eclo 29, 20)
Sumário. Quão agradável é a Jesus que nos lembremos da sua Paixão, conclui-se de que o Santíssimo Sacramento foi instituído exatamente para conservar em nós a memória dela. Eis por que todos os santos meditavam continuamente nos sofrimentos e desprezos que o Redentor padeceu em toda a sua vida e particularmente na morte. Procuremos dar esta satisfação ao Coração amabilíssimo de Jesus; contemplemo-lo muitas vezes, mormente na sexta-feira, moribundo por nós, lembrando-nos as penas que com tamanho amor sofreu por nós.
I. QUÃO AGRADÁVEL É a Jesus Cristo que nos lembremos frequentemente da sua paixão e da morte ignominiosa que por nós sofreu, conclui-se da instituição do Santíssimo Sacramento do altar, a qual foi feita exatamente para guardar sempre viva a lembrança do amor que nos mostrou Jesus, sacrificando-se sobre a cruz pela nossa salvação. — Já sabemos que Jesus instituiu este Sacramento de amor na véspera da sua morte e que depois de ter dado seu corpo aos discípulos, lhes disse, e na pessoa deles também a nós, que quando tomassem a santa comunhão, anunciassem a morte do Senhor (1Cor 11, 26), quer dizer, que se lembrassem do muito que por nosso amor sofreu. Por isso, a Igreja ordena que na missa o celebrante diga depois da consagração, em nome de Jesus Cristo: Haec quotiescumque feceritis, in mei memoriam facietis — “Todas as vezes que fizerdes estas coisas, as fareis em memória de mim”.
Se alguém padecesse pelo seu amigo injúrias e açoites e depois lhe contassem que o amigo, ouvindo falar disso, nem quer escutar dizendo: Falemos em outra coisa, que pena não havia de sentir de tamanha ingratidão? Que consolação teria, ao contrário, sabendo que o amigo proclama a sua gratidão eterna e dele sempre se lembra e fala com lágrimas de ternura? — Eis por que os santos, sabendo quanto agrada a Jesus Cristo a lembrança frequente da sua Paixão, se tem aplicado sempre a meditar nas dores e nos desprezos que o amantíssimo Redentor sofreu em toda a sua vida e especialmente em sua morte.
Refere-se na vida do Bem-aventurado Bernardo de Corlione, capuchinho, que, quando os religiosos, seus irmãos, queriam ensiná-lo a ler, foi primeiro tomar conselho com Jesus crucificado. Respondeu-lhe o Senhor: Que leitura! Que livros! Eu, o crucificado, quero ser teu livro, no qual poderás ler o amor que te hei consagrado. - Jesus crucificado foi também o livro predileto de São Filipe Benício. No leito da morte pediu o santo lhe dessem seu livro. Os assistentes não sabiam qual era o livro que desejava, mas frei Ubaldo, seu confidente, deu-lhe a imagem de Jesus crucificado e então disse o santo: “É este o meu livro”; e, beijando as chagas sagradas, exalou a sua alma bendita.
II. Visto que Jesus deseja tanto que nos lembremos da sua Paixão, procuremos, ó almas devotas, imitar a Esposa dos Cânticos que dizia: “Eu me assentei debaixo da sombra daquele que é o objeto dos meus desejos” (Ct 2, 3). Representemo-nos muitas vezes, particularmente nas sextas-feiras, Jesus moribundo sobre a cruz. Detenhamo-nos com ternura na consideração prolongada das suas chagas e do amor que nos tinha quando estava agonizando sobre aquele leito de dor: Não te esqueças da graça que te fez teu fiador, porque Ele expôs por ti sua alma.
Ó Salvador do mundo, ó amor das almas, ó Senhor, objeto mais digno de todo o amor! E pela vossa Paixão que quisestes ganhar nossos corações, mostrando-nos o amor imenso que nos tendes e consumando uma Redenção que nos trouxe a nós um mar de bênçãos e a Vós Vos custou um mar de dores e de opróbrios. Com tantos prodígios de amor alcançastes que muitas almas santas, abrasadas pelas chamas do vosso amor, renunciassem a todos os bens da terra, para se consagrarem inteiramente a vosso amor, ó Senhor amabilíssimo! — Suplico-Vos, meu Jesus: fazei com que eu me lembre sempre da vossa Paixão, e que, miserável como sou, mas vencido, afinal, por tantas finezas do vosso amor, me renda a Vos amar e a dar-Vos com o meu amor alguma prova de gratidão pelo amor excessivo que Vós, meu Deus e meu Salvador, me haveis tido.
Lembrai-Vos, meu Jesus, que sou uma dessas ovelhas, por cuja salvação viestes à terra sacrificar a vossa vida. Sei que, depois de me haverdes remido pela vossa morte, não deixastes de me amar e que ainda me tendes o mesmo amor que me quisestes ter morrendo por mim. Não permitais que eu viva ainda ingrato para convosco, meu Deus, que tanto mereceis meu amor e tanto haveis feito para ser amado por mim. — É esta a graça que vos peço também, ó Maria, pelos merecimentos da dor que sentistes na Paixão de vosso Filho Jesus.

27 de junho de 2024

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO É PRISIONEIRO DE AMOR

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Descendit cum illo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum — “Desceu (Deus) com ele ao fosso, e não o deixou nas cadeias” (Sb 10, 13)
Sumário. Considera que Jesus está noite e dia sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Bastava que ali ficasse só de dia; porém Ele quis ficar também durante a noite, a fim de que de manhã o possa achar quem o venha buscar. Só esta fineza devia excitar todos os homens a ficar sempre na presença de Jesus sacramentado; mas é o contrário que se dá. Nós ao menos procuremos dar-Lhe alguma compensação, multiplicando o mais possível nossas visitas, e ao sairmos da Igreja, deixemos nossos corações com todos os seus afetos ao pé do altar, ou encerrados dentro do santo Tabernáculo.
I. NOSSO AMANTÍSSIMO PASTOR, que deu a vida por nós, suas ovelhas, não quis pela morte separar-se de nós. Eis-me aqui, diz Ele, eis-me aqui, sempre no meio de vós, minhas queridas ovelhas. Por vós me deixei ficar sobre a terra neste Sacramento; aqui me achareis sempre que quiserdes, para vos ajudar e consolar com a minha presença; não vos deixarei até o fim dos séculos, enquanto estiverdes sobre a terra.
Eis, pois, que Jesus Cristo está sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Os sacerdotes tiram-No do Tabernáculo para O exporem, ou para O darem na santa comunhão, e depois tornam a encerrá-Lo. E Jesus de boa vontade aí fica dia e noite. — Mas, meu Redentor, para que ficar em tantas igrejas também durante a noite, quando se fecham as portas e os homens Vos deixam só?
Bastava que ficásseis somente de dia. Não; Jesus quer ficar também de noite, embora sozinho, a fim de que de manhã o possa achar logo quem O queira procurar.
A sagrada Esposa andava procurando a seu Amado e perguntava a todos que encontrava: “Não vistes porventura àquele que meu coração ama?” (Ct 5, 1). E, não o achando, prorrompia em lamentos, dizendo: Meu esposo, fazei-me saber, onde estais. Então a Esposa não o achava, porque ainda não havia o Santíssimo Sacramento; mas agora se uma alma deseja achar Jesus Cristo, basta que vá a uma igreja ou a qualquer mosteiro, e ali achará seu Amado, que está à espera dela.
Não há freguesia, por pobre que seja, nem mosteiro de religio-sos, onde não se ache o Santíssimo Sacramento e em todos esses lugares o Rei do céu de boa vontade se deixa ficar encerrado em uma caixinha de madeira ou pedra, onde muitas vezes fica sozinho, apenas com a lâmpada, sem visitante algum. — Mas, Senhor, diz São Bernardo, tal não convém a vossa majestade! Não importa, responde Jesus Cristo, se não convém à minha majestade, muito convém a meu amor.
II. Só a fineza do amor de Jesus Cristo, em querer fazer-se nosso prisioneiro, devia excitar todos os homens a visitarem-No muitas vezes no santo Tabernáculo e não saírem daí senão à força. Ao retirarem-se, deviam deixar ao pé dos altares todo o seu coração com todos os afetos de amor para com o Deus humanado que fica sozinho e encerrado no tabernáculo, todo olhos para ver e remediar nossas necessidades e todo coração, ficando ali para nos amar e esperando o dia para receber as visitas das almas que o amam.
Sim, meu Jesus, quero contentar-Vos. Consagro-Vos toda a minha vontade e todos os meus afetos. Ó Majestade infinita de Deus, Vós estais presente nesse divino Sacramento, não somente para ficardes perto de nós, mas principalmente para Vos comunicar às almas que Vos amam. Mas, Senhor, quem se atreverá a chegar-se a Vós e alimentar-se com a vossa carne? Mas também, quem se animará a afastar-se de Vós? Vós quisestes ocultar-Vos na Hóstia consagrada para entrardes em nós e possuirdes nossos corações. Vós ardeis em desejo de ser recebido de nós e achais vossas delícias em estar unido conosco.
Vinde, pois, ó meu Jesus, vinde. Desejo receber-Vos dentro de mim, para que sejais o Deus de meu coração e de minha vontade. Quanto a mim, meu amado Redentor, sacrifico a vosso amor minhas satisfações, prazeres, vontade própria e todo meu ser. O amor, ó Deus de amor, reinai e dominai em mim; destruí e aniquilai em mim tudo que é meu e não vosso. Não permitais, ó meu amor, que minha alma, cheia da majestade de um Deus, depois de Vos ter recebido pela santa comunhão, venha a apegar-se novamente às criaturas. Amo-Vos, meu Deus, amo-Vos e só a Vós quero sempre amar. — Ó Maria, Mãe do belo amor, suplico-vos, pelo amor de vosso divino Filho, que me alcanceis a santa perseverança.

FESTA DE NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO

Dupla maior.
🤍 Paramentos brancos. 

A Efígie da Mãe do Perpétuo Socorro, ícone milagroso cretense do século XII, chegou a Roma no final do século XV. Em 1498 a encontramos venerada na Igreja de São Mateus, no Esquilino. Depois de ter sido objeto de culto popular durante seis séculos, foi perdido após os acontecimentos da Cidade Santa durante a primeira metade de 1866. Tendo escapado à devastação dos invasores jacobinos, no mesmo ano foi confiada pelo Beato Pio IX , grande servo de Maria, aos Padres Redentoristas, que ainda a guardam na Igreja de Sant'Alfonso all'Esquilino, e ao próprio Pontífice restabeleceram o culto secular com uma celebração litúrgica.

MISSAE PROPRIUM

INTROITUS
Gaudeámus omnes in Dómino, diem festum celebrántes sub honóre beátæ Maríæ Vírginis: de cuius sollemnitáte gaudent Angeli et colláudant Fílium Dei ~~ Ps 44:2- Eructávit cor meum verbum bonum: dico ego ópera mea Regi. ~~ Glória ~~ Gaudeámus omnes in Dómino, diem festum celebrántes sub honóre beátæ Maríæ Vírginis: de cuius sollemnitáte gaudent Angeli et colláudant Fílium Dei

Alegremo-nos todos no Senhor celebrando este dia de celebração em honra da Bem-Aventurada Virgem Maria! Os anjos se alegram com sua festa, e juntos louvam o Filho de Deus ~~Sl 44:2- Meu coração irrompeu em boas palavras, ao Soberano canto meu poema. ~~ Glória ~~ Alegremo-nos todos no Senhor ao celebrarmos este dia de celebração em honra da Bem-Aventurada Virgem Maria! Os anjos alegram-se com a sua festa e juntos louvam o Filho de Deus.

GLÓRIA

ORATIO
Oremus
Domine Iesu Christe, qui Genitricem tuam Mariam, cuius insignem veneramur imaginem, Matrem nobis dedisti perpetuo succurrere paratam: concede, quæsumus; ut nos, maternam eius opem assidue implorantes, redemptionis tuæ fructum perpetupo experiri mereamur: Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia sæcula sæculorum. Amen

Oremos
Senhor Jesus Cristo, que nos deste a tua Mãe Maria, cuja imagem veneramos, como Mãe sempre pronta a ajudar-nos: concede-nos, rogamos, que, implorando assiduamente a sua ajuda, possamos experimentar perpetuamente o fruto da tua redenção. Você que é Deus e vive e reina com Deus Pai na unidade do Espírito Santo para todo o sempre. Amém 

LECTIO
Léctio libri Sapiéntiæ. Eccli 24:23-3.
Ego quasi vitis fructificávi suavitátem odóris: et flores mei fructus honóris et honestátis. Ego mater pulchræ dilectiónis et timóris et agnitiónis et sanctæ spei. In me grátia omnis viæ et veritátis: in me omnis spes vitæ et virtútis. Transíte ad me, omnes qui concupíscitis me, et a generatiónibus meis implémini. Spíritus enim meus super mel dulcis, et heréditas mea super mel et favum. Memória mea in generatiónes sæculórum. Qui edunt me, adhuc esúrient: et qui bibunt me, adhuc sítient. Qui audit me, non confundétur: et qui operántur in me, non peccábunt. Qui elúcidant me, vitam ætérnam habébunt.

Leitura do livro da Sabedoria 24:23-3.
Como uma videira, produzi folhas de cheiro doce, e minhas flores deram frutos de glória e riqueza. Sou a mãe do lindo amor, do medo, do conhecimento e da santa esperança. Em mim se encontra toda graça de doutrina e verdade, em mim toda esperança de vida e virtude. Venham a mim, todos vocês que me desejam, e fiquem satisfeitos com meus frutos. Porque o meu espírito é mais doce que o mel, e a minha herança mais doce que o favo de mel. Minha memória permanecerá por muitos séculos. Quem me comer ainda terá fome; quem beber de mim ainda terá sede. Quem me escuta não sofrerá vergonha; quem age comigo não pecará; quem me der a conhecer terá a vida eterna.

GRADUALE
Cant 6, 3 et 9
Tota formosa et suavis es, filia Sion, pulchra ut luna, electa ut sol, terribilis ut acies castrorum ordinata.
Iudith 13, 22
Benedixit te Dominus in virtute sua, quia per te ad nihilum redegit inimicos nostros.

És toda linda e doce, ó filha de Sião: linda como a lua, escolhida como o sol, terrível como um exército alinhado para a batalha.
V. O Senhor te abençoou em seu poder: através de ti Ele reduziu a nada nossos inimigos. 

ALLELUIA
Alleluia, alleluia
Luc 1, 28
Ave, Maria, grátia plena; Dóminus tecum: benedícta tu in muliéribus. Alleluia

Aleluia, aleluia
Ave, ó Maria, cheia de graça; o Senhor está contigo; és abençoada entre as mulheres. Aleluia

EVANGELIUM
Sequentia ✠ sancti Evangelii secundum Ioannem  19, 25-27
In illo tempore: stabant iuxta crucem Iesu Mater eius, et soror Matris eius, Maria Cleophæ, et Maria Magdalene. Cum vidisset ergo Iesus Matrem, et discipulum stantem, quem diligebat, dicit Matri suæ: Mulier, ecce filius tuus. Deinde dicit discipulo: Ecce Mater tua. Et ex illa hora accepit eam discipulus in sua.

Sequência ✠ do Santo Evangelho segundo São João 19, 25-27.
Naquele tempo, sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena estavam perto da cruz de Jesus. Jesus então, vendo a Mãe e o discípulo que amava ali ao lado dela, disse à Mãe: “Mulher, aqui está o teu filho!”. Depois disse ao discípulo: «Aqui está a tua Mãe!». E a partir desse momento o discípulo a acolheu em sua casa.

OFFERTORIUM
Ier 18, 20
Recordare, Virgo Mater, in conspectu Dei, ut loquaris pro nobis bona, et ut avertat indignationem suam a nobis.

Lembra-te, ó Virgem Mãe, de falar com Deus em nosso nome para que Ele afaste de nós a sua indignação.

SECRETA
Tua, Dómine, propitiatióne, et beátæ Vírginis et Matris Maríæ intercessióne, ad perpétuam atque præséntem hæc oblátio nobis profíciat prosperitátem et pacem. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen

Pela vossa clemência, Senhor, e pela intercessão da bem-aventurada Maria, Virgem e Mãe, que esta oblação nos seja benéfica para a prosperidade e a paz agora e na eternidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

COMMUNIO
Regina mundi digníssima, María, Virgo perpétua, intercéde pro nostra pace et salúte, quæ genuísti Christum Dóminum, Salvatórem ómnium.

Nobríssima Rainha do Mundo, Maria, Virgem perpétua, intercede pela nossa paz e pela nossa salvação: Tu que geraste Cristo Senhor, o Salvador de todos.

POSTCOMMUNIO
Oremus
Adiuvet nos, quǽsumus, Dómine, immaculátæ Genetrícis tuæ sempérque Vírginis Maríæ intercéssio veneránda : ut, quos perpétuis cumulávit benefíciis, a cunctis perículis absolútos, sua fáciat pietáte concórdes. Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia sæcula sæculorum. Amen

Oremos
Que a venerável intercessão de Vossa Imaculada Mãe e sempre Virgem Maria nos ajude, Senhor: através da sua misericórdia, livre de todos os perigos, ela nos ponha de acordo entre nós, a quem ela enriqueceu de benefícios perpétuos. Vós que sois Deus e vive e reina com Deus Pai em unidade com o Espírito Santo para todo o sempre. Amém

25 de junho de 2024

GRANDEZA DA DIVINA MISERICÓRDIA

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Superexaltat autem misericordia iudicium — “A misericórdia se eleva sobre o juízo” (Tg 2, 13)
Sumário. Toda a terra está cheia da misericórdia de Deus, que nos ama tanto e tão grande desejo tem de nos dispensar suas graças, que nós não o temos igual de as receber. Basta dizer que foi a misericórdia que levou o Senhor a enviar à terra o seu próprio Filho mesmo para se fazer homem, levar uma vida de trabalhos e fadigas e afinal morrer sobre uma cruz por nosso amor. Mas, ai daquele que deixa passar o tempo da divina misericórdia! De repente lhe virá o da justiça, e da justiça tanto mais inexorável, quanto maior tiver sido a misericórdia.
I. É TÃO GRANDE o desejo de Deus de nos dispensar suas graças, que, no dizer de Santo Agostinho, Ele mais deseja no-las comunicar do que nós as desejamos receber. A razão é que, como explicam os filósofos, a bondade é por natureza levada a dilatar-se em benefício dos outros. Por isso, Deus, que é a bondade infinita, tem um desejo infinito de se comunicar a nós suas criaturas e fazer-nos participantes de seus bens.
Dali nasce a grande misericórdia do Senhor para com as cria-turas. Davi diz que a terra está cheia da divina misericórdia. Não está cheia da divina justiça, porque Deus não exerce sua justiça para castigar os pecadores, senão quando se vê obrigado ou quase constrangido a exercê-la. Ao contrário, é generoso e liberal no uso da sua misericórdia para com todos e em todo tempo, pelo que São Tiago escreve: Superexaltat autem misericordia iudicium — “A misericórdia se eleva sobre o juízo”. Muitas vezes a misericórdia arranca das mãos da justiça os açoites aparelhados para os pecadores e obtém para eles o perdão.
Eis por que o profeta no salmo 58 dá a Deus o nome de misericórdia (Sl 58, 18), e no 24 suplica queira perdoar-lhe pelo seu nome, por ser Ele a própria misericórdia (SI 24, 11). No salmo 135, no qual exorta todos a louvarem a Deus por causa da sua providência e dos benefícios conferidos a seu povo, repete vinte e sete vezes estas palavras: In aeternum misericordia eius — “A sua misericórdia é para sempre”. — Em suma, foi a sua grande misericórdia que moveu Deus a enviar a terra seu próprio Filho, para se fazer homem e morrer sobre uma cruz, a fim de nos livrar da morte eterna. Por isso Zacarias cantou: Per viscera misericordiae Dei nostri (Lc 1, 78) — “Pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus”. Por “entranhas de misericórdia” entende-se uma misericórdia que procede do íntimo do Coração de Deus; porquanto preferiu ver morrer seu Filho feito homem a ver-nos perdidos.
II. Para compreendermos quão grande é a misericórdia de Deus para conosco e o desejo que Ele tem de nos fazer bem, basta a leitura destas poucas palavras suas no Evangelho: Petite et dabitur vobis (Mt 7, 7) — “Pedi e vos será dado”. Que mais poderia dizer um amigo ao outro, para lhe provar a sua afeição? Pede-me o que quiseres e eu te darei. Ora, é isso o que Deus diz a cada um de nós; e além disso convida-nos a recorrermos a Ele para achar alívio em nossas misérias: Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos (Mt 11, 28).
Vendo algum pecador obstinado no pecado, Deus espera pacientemente para usar de misericórdia com ele. Entretanto emprega todos os meios para reconduzi-lo à penitência; ora pondo-lhe diante dos olhos o castigo que lhe está reservado, se não se converte (SI 59, 6); ora batendo à porta do coração, a fim de que se lhe abra (Ap 3, 20); ora gritando atrás dele: Quare moriemini, domus Israel? (Ez 18, 31) — “Por que morrereis, ó casa de Israel?”. Como se a compaixão lhe fizesse dizer: Meu filho, por que te queres assim perder? Volta, lança-te em meus braços, sou ainda sempre teu Pai. — Não contente com isso, o Senhor vai ainda mais longe, e, como escreve o Apóstolo, chega a suplicar aos pecadores que se reconciliem com Deus: Obsecramus pro Christo, reconciliamini Deo (2Cor 5, 20).
Se porém, apesar de tamanha bondade e misericórdia, alguém se obstinar no pecado, que fará o Senhor? Protesta que sempre está disposto a usar de misericórdia com ele, enquanto não o vir comparecer perante o seu tribunal divino; e ali, depois de lhe ter lançado em rosto a má correspondência à graça, condená-lo-á ao inferno, com as palavras: Perditio tua, Israel: tantummodo in me auxilium tuum (Os 13, 9) — “A tua perdição, ó Israel, toda vem de ti; só em mim está o teu auxílio”.
Ó Eterno Pai, em nome de Jesus Cristo e por amor de Maria Santíssima, livrai-me de tamanha desgraça e fazei com que me aproveite bem da vossa misericórdia. Se viesse a me perder, que inferno seria para mim a lembrança da misericórdia que tivestes comigo e o pensar que me quis perder em vosso despeito?

24 de junho de 2024

O GRANDE SEGREDO PARA VIVER BEM

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

In omnibus operibus tuis memorare novissima tua, et in aeternum non peccabis — “Em todas as tuas obras lembra-te de teus novíssimos e nunca, jamais pecarás” (Eclo 7, 40)
Sumário. Meu irmão, se queres viver bem, procura pensar sempre na morte. Ao veres um túmulo, ao assistires às exéquias de um parente ou amigo, ao veres um cadáver sendo levado à sepultura, contempla nisso a tua própria imagem e dize: Dentro de breves anos, talvez meses ou dias, será tal a sorte de meu corpo e, estando então perdida a alma, estará perdida para sempre. Por terem pensado na morte, quantos deixaram a morte e subiram à mais alta perfeição.
I. MEU IRMÃO, SE queres viver bem, procura, durante o tempo de vida que te resta, viver pensando sempre na morte. Ao veres um túmulo, ao assistires às exéquias de um amigo ou parente, ao veres um cadáver sendo levado à sepultura, contempla nisso a tua própria imagem e o que um dia há de ser de ti. Reflete então e dize contigo: dentro em poucos anos, talvez meses ou dias tudo acabará para mim; meu corpo será apenas podridão e vermes. Estando então perdida a alma, tudo estará perdido para mim e perdido para sempre.
Assim é que fizeram os santos, que agora reinam no céu; é por este meio que chegaram a desprezar todos os bens desta terra, que venceram as tentações mais fortes e subiram a alta santidade. Jó dizia à podridão: Tu és meu pai; e aos vermes: Vós sois minha mãe e minha irmã (Jó 17, 14). São Carlos Borromeu conservava sempre sobre a sua mesa uma caveira, para tê-la continuamente diante dos olhos. O cardeal Barônio fez gravar no seu anel estas palavras: Memento mori — “Lembra-te da morte”. O bem-aventurado Juvenal, bispo de Saluzzo, escrevera sobre uma caveira estas palavras: O que tu és, fui eu; o que eu sou, tu serás um dia. Outro santo solitário, perguntando na hora da morte o porquê estava tão alegre, respondeu: Sempre tive a lembrança da morte diante dos olhos; por isso, agora que ela vem, não vejo coisa nova.
Finalmente, para não falar de outros, São Camilo de Léllis, ao ver os túmulos, dizia consigo: Se estes defuntos voltassem ao mundo, quanto não fariam pela vida eterna! E eu, que ainda tenho tempo, que faço pela minha alma? — O santo falava assim por humildade. Mas tu, meu irmão, tens talvez razão para temer que sejas aquela figueira sem fruto da qual disse o Senhor: “Já há três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não o acho” (Lc 13, 7). Tu que estás no mundo há mais de três anos, que fruto tens produzido? Considera, diz São Bernardo, que o Senhor não procura somente flores, mas quer também frutos; isto é, não somente bons desejos e propósitos, senão também obras santas.
II. Saibamos aproveitar o tempo que Deus nos dá na sua misericórdia e não esperemos para fazer o bem até que não haja mais tempo e se nos diga: Tempus non erit amplius... proficiscere: E tempo de partir deste mundo; vamos depressa; o que está feito, está feito.
“Considera-te, diz São Lourenço Justiniano, considera-te desde já como morto, já que é certo que deves morrer”. Se já estivesses morto, quanto não quererias ter feito! Diz São Boaventura que o piloto para bem governar o navio, se coloca na popa: assim o homem, para levar uma vida boa, deve considerar-se sempre como se estivesse para morrer. Foi isto que fez São Bernardo dizer: Vide prima et erubesce, considera os pecados da tua mocidade e cora; — vide media et ingemisce, considera os pecados da idade viril e geme; — vide novissima et contremisce, considera as desordens da idade atual e treme e apressa-te em os remediar.
Eis-me aqui, meu Deus, sou aquela árvore que há tantos anos mereceu ouvir a sentença: Corta-a, para que ocupa ainda a terra? Sim, porque nos muitos anos que estou no mundo, ainda não dei outros frutos senão cardos e espinhos de pecados. Mas Vós, Senhor, não quereis que eu desespere. Vós dissestes que o que Vos procurar, Vos achará: Quaerite et invenietis. Procuro-Vos, meu Deus, e desejo vossa graça. Detesto de todo o coração todas as ofensas que Vos fiz e quisera morrer de dor. Quero empregar o resto da minha vida em Vos amar e honrar. Sim, amo-Vos, ó meu soberano Bem, e, com o vosso auxílio, quero viver e morrer fazendo atos de amor a Vós, que por meu amor morrestes sobre a cruz. + Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

23 de junho de 2024

O VÍCIO DA IRA E O MODO DE REFREÁ-LO

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Omnis qui irascitur fratri suo, reus erit iudicio — “Todo aquele que se irar contra seu irmão, será réu em juízo” (Mt 5, 22)
Sumário. É com razão que Jesus Cristo disse que, quem se encoleriza, se torna réu do juízo; porquanto a ira faz o homem cair em mil excessos, sem que lhe deixe ver o mal que faz. Roguemos ao Senhor que nos livre desta paixão, sejamos mansos para com todos; e façamos com nossa língua a convenção que nos guardaremos de falar, quando se diga contra nós alguma coisa que nos possa irar. Se por desgraça nos tivéssemos irado, não se ponha o sol sobre nossa ira.
I. Ó, QUANTOS MALES nascem do vício insensato da ira! Ela é semelhante ao fogo, porque assim como o fogo é veemente na sua força destrutiva e logo que pegou impede a vista pelo fumo que despede, assim a ira faz o homem cair em mil excessos, e não lhe deixa ver o que está fazendo e assim, conforme a palavra de Jesus Cristo no Evangelho de hoje, torna-o réu do juízo: Ominis qui irascitur fratri suo, reus erit iudicio.
É tão prejudicial ao homem a ira, que ainda mesmo exteriormente o desfigura. Ainda que seja a pessoa mais bela e graciosa do mundo, quando a cólera a transporta, será, como diz São Boaventura e confirma a experiência, semelhante a um monstro, a uma fera que atemoriza. Portanto, se a ira nos desfigura aos olhos dos homens quanto mais nos desfigurará aos olhos de Deus.
Ira viri, escreve São Tiago, institiam Dei non operatur (Tg 1, 20), quer dizer que as obras de um homem iracundo não podem harmonizar-se com a justiça divina, nem, por conseguinte, estar isentas de pecado, talvez mesmo grave. Sim, porque a ira, no dizer de São Jerônimo, faz o homem perder a razão e obrar cegamente como um louco ou uma fera. Fá-lo cair em pecados de murmurações, de injustiças, de vinganças, de blasfêmias, de escândalos e de mil outras iniquidades. Numa palavra, conclui o mesmo santo, é pela ira que entram na alma quase todos os vícios: Omnium vitiorum ianua est iracundia.
Ai, porém, dos iracundos! Ao mesmo tempo que os desgraçados se inflamam em cólera contra o próximo, Deus não somente se afasta deles pela subtração das graças, mas arma também sua mão com o açoite do castigo para puni-los neste mundo e no outro. Além disso, os iracundos, nos dias de sua vida, passam uma existência infeliz por estarem sempre agitados como numa tempestade.
II. Sendo tão numerosos e funestos os prejuízos que o vício da ira causa à alma, mister é que usemos de todo o cuidado em refreá-la, afeiçoando-nos à mansidão, que é a virtude predileta de Jesus Cristo. Dizia São Francisco de Sales: “O que se deixa levar por leves movimentos de ira, em breve se tornará furioso e insuportável”. — Devemos, portanto, conforme a exortação de São Paulo (CL 3, 12), vestir-nos de entranhas de misericórdia para com o próximo e suportar os seus defeitos, lembrando-nos de que ele deve também suportar os nossos, que são talvez mais graves.
Quando recebermos algum agravo, respondamos com brandura, ou, melhor ainda, abstenhamo-nos de responder, à imitação de São Francisco de Sales, que tinha feito com a sua língua a convenção que havia de ficar calada quando se dissesse alguma coisa que o pudesse encolerizar. — Quando, porém, por desgraça, a ira tivesse entrada em nosso coração, tenhamos cuidado de não a deixar descansar ali: Sol non occidat super iracundiam vestram (Ef4, 26) — “O sol não se ponha sobre a vossa ira”. E Jesus Cristo conclui o Evangelho de hoje com estas palavras: “Se, estando a apresentar a tua oferenda ante o altar, te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, larga a tua oferenda ao pé do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e depois virás fazer a tua oblação”.
Mas, sobretudo, para que não nos deixemos dominar por alguma paixão, e em particular pela ira, roguemos muitas vezes ao Senhor com o Eclesiástico: Não me entregues a uma alma sem pejo e sem recato: Animo irreverenti et infrunito ne tradas me (Eclo 23, 6).
Ó Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo, suplico-Vos, não permitais que eu seja escravo do vício da ira; infundi em meu coração o espírito de mansidão e de doçura, a fim de que eu não ofenda a ninguém e perdoe aos que me ofendem. — “Ó Deus, que preparastes bens invisíveis para os que Vos amam, infundi em nossos corações o afeto do vosso amor, para que, amando-Vos em tudo e sobre tudo, alcancemos vossas promessas, que excedem todos os desejos”. Fazei-o pelos méritos de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima.

22 de junho de 2024

QUINTO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

💚 Paramentos verdes. 

A liturgia deste domingo é consagrada ao perdão das ofensas. A leitura evangélica destaca esta lição não menos que uma passagem das Epístolas de São Pedro, cuja festa é celebrada neste tempo, na verdade, a semana do V Domingo de Pentecostes era em outros tempos chamada de semana seguinte à festa dos Apóstolos. Quando Davi alcançou sua vitória sobre Golias, o povo de Israel voltou triunfante para suas cidades e ao som dos tambores eles cantaram: «Saul matou mil e David dez mil!». O rei Saul então ficou furioso e o ciúme o atingiu. Ele pensou: «Eu sou mil e David é dez mil: será que David é superior a mim? O que lhe falta agora além de ser rei em meu lugar? A partir daquele dia ele olhou para ele com um olhar malévolo, como se tivesse adivinhado que Davi havia sido escolhido por Deus. Assim, o ciúme tornou Saul mau. Duas vezes enquanto David tocava a lira para acalmar a sua fúria, Saul atirou-lhe o dardo e por duas vezes David evitou o golpe com agilidade, enquanto o dardo ficou preso na parede. Então Saul o enviou para lutar, esperando que ele fosse morto. Mas o vitorioso Davi retornou em segurança à frente do exército e depois perseguiu Davi ainda mais. Uma noite ele entrou em uma caverna profunda e escura, onde David já estava. Um dos companheiros disse a este: «É o rei. O Senhor o entrega a você: agora é a hora de matá-lo com a sua lança”. Mas Davi respondeu: “Jamais ferirei aquele que recebeu a santa unção” e apenas cortou com a espada uma ponta do manto de Saul e saiu. Ao amanhecer, ele mostrou de longe a Saul a orla do seu manto. Saul chorou e disse: “Meu filho, Davi, você é melhor do que eu”. Ainda outra vez, Davi o surpreendeu à noite, dormindo profundamente, com a lança fixada no chão, ao lado de sua cama; e não tomou nada dele, exceto sua lança e sua tigela. E Saul o abençoou novamente; mas isso não impediu de persegui-lo. Mais tarde, os filisteus retomaram a guerra e os israelitas foram derrotados; Saul então se matou atirando-se sobre a espada. Quando David soube da morte de Saul, não se alegrou mas, pelo contrário, rasgou as suas vestes, mandou matar o amalequita que, falsamente assumindo o crédito por ter matado o inimigo de David, anunciou a sua morte trazendo-lhe a coroa de Saul, e cantou este cântico fúnebre : «Ó montanhas de Gelboe, não deixem mais orvalho ou chuva cair sobre vocês, ó montanhas traiçoeiras! Pois sobre ti caíram os heróis de Israel, Saul e Jônatas, amáveis ​​e graciosos, nem na vida nem na morte eles foram separados um do outro.

De toda esta consideração surge uma grande lição de caridade, pois assim como David poupou o seu inimigo Saul e retribuiu-lhe o bem com o mal, assim Deus também perdoa os judeus; apesar da sua infidelidade, está sempre pronto a acolhê-los no Reino onde Cristo, a sua vítima, é rei. Compreendemos então a razão da escolha da Epístola e do Evangelho destes dias que pregam o grande dever do perdão das injúrias. “Sede pois unidos de coração em oração, não retribuindo mal com mal, nem dano por dano”, diz a Epístola. “Se você apresentar a sua oferta no altar, diz o Evangelho, e se lembrar que o seu irmão tem algo contra você, deixe a sua oferta diante do altar e vá primeiro reconciliar-se com o seu irmão”. - Davi, ungido rei de Israel, dentre os anciãos de Hebron, toma a cidadela de Sião que se tornou sua cidade, e coloca a arca de Deus no santuário (Communio). Esta foi a recompensa da sua grande caridade, virtude indispensável para que o culto dos homens no santuário fosse agradável a Deus. E é por isso que a Epístola e o Evangelho reiteram que é sobretudo quando nos reunimos para a oração que devemos estar unidos de coração. Sem dúvida, a justiça de Deus tem os seus direitos, como mostra a história de Saulo e a Missa de hoje, mas se expressa uma sentença, que é um julgamento final, é só depois de Deus ter usado todos os meios inspirados pelo seu amor. A melhor maneira de alcançar esta caridade é amar a Deus e desejar os bens eternos (Oratio) e a posse da felicidade (Epístola) na morada celestial (Communio), na qual não se pode entrar senão através da prática contínua desta bela virtude. Para a Epístola. A virtude cristã por excelência é a caridade que põe em prática as diversas virtudes enumeradas por São Pedro, segundo o Salmo XXXIII, v. 8 e 9, e que, quando exercido contra aqueles que nos perseguem como cristãos, é uma verdadeira apologia à religião. A caridade nos proporcionará dias abençoados no céu (Communio). Jesus condena não só o homicídio externo, mas também o motivo interno que nos leva a isso, nomeadamente a raiva, pois nos faz querer libertar-nos do próximo. Esta raiva tem três graus, diz Santo Agostinho: o primeiro quando o movimento ocorrido fica retido no coração (Postcommunio); a segunda quando é expressa por meio de exclamação; a terceira quando se manifesta com a palavra (Epístola). Estes três graus correspondem a três julgamentos, um mais grave que o outro. «O verdadeiro sacrifício, diz São João Crisóstomo, é a reconciliação com o irmão». «O primeiro sacrifício que deve ser oferecido a Deus, acrescenta Bossuet, é um coração puro de toda fraude e de toda inimizade com o irmão»

MISSAE PROPRIUM

INTROITUS
Ps 26:7; 62:9 - Exáudi, Dómine, vocem meam, qua clamávi ad te: adiútor meus esto, ne derelínquas me neque despícias me, Deus, salutáris meus. ~~ Ps 26:1- Dóminus illuminátio mea et salus mea, quem timébo? ~~ Glória ~~ Exáudi, Dómine, vocem meam, qua clamávi ad te: adiútor meus esto, ne derelínquas me neque despícias me, Deus, salutáris meus.

Ps 26:7; 62:9- Ouve, ó Senhor, a invocação com que te dirijo, sê a minha ajuda, não me abandones, não me desprezes, ó Deus minha salvação. ~~ Sl 26:1- O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? ~~ Glória ~~ Ouve, ó Senhor, a invocação com que te dirijo, sê meu auxílio, não me abandones, não me desprezes, ó Deus minha salvação.

GLORIA

ORATIO
Orémus.
Deus, qui diligéntibus te bona invisibília præparásti: infúnde córdibus nostris tui amóris afféctum; ut te in ómnibus et super ómnia diligéntes, promissiónes tuas, quæ omne desidérium súperant, consequámur. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos
Ó Deus, que preparaste bens invisíveis para aqueles que te amam, infunde em nossos corações a ternura do teu amor, para que, amando-te em tudo e acima de tudo, alcancemos aqueles bens por ti prometidos, que superam qualquer desejo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

LECTIO
Léctio Epístolæ beáti Petri Apóstoli.
1 Pet 3:8-15
Caríssimi: Omnes unánimes in oratióne estóte, compatiéntes, fraternitátis amatóres, misericórdes, modésti, húmiles: non reddéntes malum pro malo, nec maledíctum pro maledícto, sed e contrário benedicéntes: quia in hoc vocáti estis, ut benedictiónem hereditáte possideátis. Qui enim vult vitam dilígere et dies vidére bonos, coérceat linguam suam a malo, et lábia eius ne loquántur dolum. Declínet a malo, et fáciat bonum: inquírat pacem, et sequátur eam. Quia óculi Dómini super iustos, et aures eius in preces eórum: vultus autem Dómini super faciéntes mala. Et quis est, qui vobis nóceat, si boni æmulatóres fuéritis? Sed et si quid patímini propter iustítiam, beáti. Timórem autem eórum ne timuéritis: et non conturbémini. Dóminum autem Christum sanctificáte in córdibus vestris.

Leitura da Epístola de São Pedro Apóstolo 1 Pet 3:8-15.
Caríssimos: Sede todos unidos na oração, sede compassivos, animados pelo amor fraterno, misericordiosos, modestos, humildes: não retribuais mal com mal, nem injúria por injúria, mas antes bênção, pois para isso fostes chamados, para herdar o bênção. Com efeito, quem quiser amar a vida e ver dias felizes deve preservar a língua do mal e os lábios da mentira, evitar o mal e fazer o bem, procurar a paz e segui-la. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos sobre as suas orações; enquanto a face do Senhor está contra os que praticam o mal. E quem pode prejudicá-los se vocês foram imitadores do bem? Além disso, se você sofreu algo por justiça, você será abençoado. Não temam aqueles que os prejudicam e não se preocupem; mas glorifiquem a Cristo, o Senhor, em seus corações.

GRADUALE
Ps 83:10; 83:9
Protéctor noster, áspice, Deus, et réspice super servos tuos,
V. Dómine, Deus virtútum, exáudi preces servórum tuórum.

Ó Deus, nosso protetor, volte seu olhar para nós, seus servos,
V. Ó Senhor, Deus dos Exércitos, atende às orações dos teus servos.

ALLELUIA
Allelúia, allelúia
Ps 20:1
Dómine, in virtúte tua lætábitur rex: et super salutáre tuum exsultábit veheménter. Allelúia.

Aleluia, Aleluia
Ó Senhor, o rei se alegra com o teu poder; e quanto me alegro com sua ajuda! Aleluia.

EVANGELIUM
Sequéntia ✠ sancti Evangélii secúndum Matthaeum 5:20-24.
In illo témpore: Dixit Iesus discípulis suis: Nisi abundáverit iustítia vestra plus quam scribárum et pharisæórum, non intrábitis in regnum coelórum. Audístis, quia dic tum est antíquis: Non occídes: qui autem occídent, re us erit iudício. Ego autem dico vobis: quia omnis, qu iráscitur fratri suo, reus erit iudício. Qui autem díxerit fratri suo, raca: reus erit concílio. Qui autem díxerit, fatue: reus erit gehénnæ ignis Si ergo offers munus tuum ad altáre, et ibi recordátus fúeris, quia frater tuus habet áliquid advérsum te: relínque ibi munus tuum ante altáre et vade prius reconciliári fratri tuo: et tunc véniens ófferes munus tuum.
R. Laus tibi, Christe.
S. Per Evangélica dicta, deleántur nostra delícta.

Sequência ✠ do Santo Evangelho segundo São Mateus 5:20-24.
Naquele tempo: Jesus disse aos seus discípulos: Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus. Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: Não matarás; na verdade, quem matar será condenado em tribunal. Mas eu lhes digo que quem estiver zangado com seu irmão será condenado em tribunal. Quem disser ao irmão: raca, imbecil, será condenado no Sinédrio. E quem disse a ele: louco; ele será condenado ao fogo do inferno. Se, portanto, você trouxer sua oferta ao altar e depois se lembrar que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta no altar e vá primeiro se reconciliar com seu irmão, e então, voltando, faça sua oferta.

Homilia de Santo Santo Agostinho, bispo. Livro 1 do Sermão do Senhor na Montanha, cap. 9
" A santidade dos fariseus consistia em não matar, a santidade de quem deve entrar no reino dos céus é não se irar sem motivo. O mínimo é, portanto, não matar; e aquele que violar este preceito será considerado o menor no reino dos céus. Mas quem o observar para não matar não será, portanto, grande e digno do reino dos céus; no entanto, ele já subiu um grau: e se aperfeiçoará, se não se irritar sem motivo; e se ele se aperfeiçoar, estará muito mais longe do assassinato. Portanto, quem nos ensina a não irar-nos não destrói a lei, proibindo-nos de não matar, mas completa-a; para que preservemos a inocência tanto externamente, ao não matar, como no fundo do coração, ao não nos irarmos. Portanto, nestes pecados de raiva há graus: no primeiro a pessoa fica com raiva, mas retendo em si a emoção concebida no coração. Se a perturbação sentida arranca da pessoa indignada uma voz que não significa nada em si, mas atesta essa emoção emocional com a mesma exclamação que escapa ao homem irritado, a culpa é certamente maior do que se a raiva nascente tivesse sido silenciosamente comprimida. Se então se ouvir não apenas um grito de indignação, mas também uma palavra que indique e manifeste a culpa infligida ao destinatário, quem duvidará que se trate de uma falta mais grave do que exprimir, com o mero som da própria voz, a sua descontentamento? Agora observe três graus também na investigação do caso: julgamento, conselho, fogo da Geena. A defesa ainda ocorre durante o julgamento. No concílio, por outro lado, embora haja também a possibilidade de julgamento, mas porque a própria distinção feita nos obriga a reconhecer aqui alguma diversidade, parece-nos que a promulgação da sentença cabe ao concílio; porque então já não se trata de examinar se o criminoso deve ser condenado, mas os juízes decidem entre si a pena a infligir àqueles que certamente merecem ser condenados. No fogo da Geena não há mais dúvida quanto à condenação, como no julgamento, nem incerteza quanto à punição dos condenados, como no concílio; porque no fogo do inferno a condenação é certa e o castigo dos culpados é fixo. "

CREDO

OFFERTORIUM
Ps 15:7 et 8.
Benedícam Dóminum, qui tríbuit mihi intelléctum: providébam Deum in conspéctu meo semper: quóniam a dextris est mihi, ne commóvear.

Bendirei ao Senhor que me deu sabedoria: mantenho sempre Deus presente comigo, com ele à minha direita não serei abalado.

SECRETA
Propitiáre, Dómine, supplicatiónibus nostris: et has oblatiónes famulórum famularúmque tuárum benígnus assúme; ut, quod sínguli obtulérunt ad honórem nóminis tui, cunctis profíciat ad salútem. Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Sê propício, ó Senhor, às nossas súplicas, e aceita graciosamente estas oblações dos teus servos e servas, para que o que os indivíduos ofereceram para a glória do teu nome possa beneficiar a todos para a sua salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

PRÆFATIO DE SACRATISSIMO CORDE IESU
Vere dignum et iustum est, æquum et salutáre, nos tibi semper et ubíque grátias ágere: Dómine sancte, Pater omnípotens, ætérne Deus: Qui Unigénitum tuum, in Cruce pendéntem, láncea mílitis transfígi voluísti: ut apértum Cor, divínæ largitátis sacrárium, torréntes nobis fúnderet miseratiónis et grátiæ: et, quod amóre nostri flagráre numquam déstitit, piis esset réquies et poeniténtibus pater et salútis refúgium. Et ídeo cum Angelis et Archángelis, cum Thronis et Dominatiónibus cumque omni milítia coeléstis exércitus hymnum glóriæ tuæ cánimus, sine fine dicéntes: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dóminus, Deus Sábaoth. Pleni sunt cæli et terra glória tua. Hosánna in excélsis. Benedíctus, qui venit in nómine Dómini. Hosánna in excélsis.

É verdadeiramente digno e justo, oportuno e salutar que nós, sempre e em toda parte, te demos graças, ó Santo Senhor, Pai Todo-Poderoso, Deus Eterno: que quiseste que o teu Unigênito , pendurado na cruz, fosse trespassado pela lança do o soldado, para que aquele coração aberto, santuário da clemência divina, derramasse sobre nós torrentes de misericórdia e de graça; e que ela, que nunca deixou de arder de amor por nós, foi paz para as almas piedosas e um refúgio aberto de salvação para as almas penitentes . E portanto com os Anjos e os Arcanjos, com os Tronos e as Dominações, e com toda a milícia da hoste celeste, cantamos o hino da tua glória, dizendo sem fim: Santo, Santo, Santo, Senhor Deus Eterno! O céu e a terra estão cheios da Tua glória! Hosana nas alturas! Bendito aquele que vem em Nome do Senhor! Hosana nas alturas!

COMMUNIO
Ps 26:4
Unam pétii a Dómino, hanc requíram: ut inhábitem in domo Dómini ómnibus diébus vitæ meæ.

Peço e pedirei ao Senhor apenas uma coisa: morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida.

POSTCOMMUNIO
Orémus.
Quos coelésti, Dómine, dono satiásti: præsta, quaesumus; ut a nostris mundémur occúltis et ab hóstium liberémur insídiis.Per Dominum nostrum Iesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos
Ó Senhor, que nos satisfez com o dom celestial; sejamos purificados de nossas deficiências ocultas e libertos das armadilhas de nossos inimigos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, em unidade com o Espírito Santo, para todo o sempre. Amém.

DA SAUDAÇÃO ANGÉLICA

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Ave, gratia plena, Dominus tecum — “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28)
Sumário. Entre todas as orações que a Igreja dirige à Santíssima Virgem, a Saudação Angélica, ou a Ave-Maria, é a mais excelente em si mesma, a mais agradável ao coração da divina Mãe e a mais útil para nós. A experiência demonstra que o que saúda a Maria com esta oração é logo retribuído por ela com algum favor especial. Recitemo-la, pois, frequente e devotamente durante o dia, mormente no princípio e no fim de cada ação. Felizes as ações que forem compreendidas entre duas Ave-Marias.
I. CONSIDERA QUE ENTRE todas as orações que a Igreja dirige à
Santíssima Virgem, a mais excelente, a mais aceita e a mais útil é a Ave-Maria.
Ela é a mais excelente considerada em si mesma; porque foi composta, por assim dizer, pela Santíssima Trindade e pronunciada a primeira vez pelo Arcanjo São Gabriel e depois por Santa Isabel, então cheia do Espírito Santo. Pelo que o Bem-aventurado Alano afirma que a Saudação Angélica, pela sua excelência, alegra todo o céu, enche a terra de prodígios, faz tremer e põe em fuga o demônio.
Em segundo lugar, ela é a mais aceita ao coração da Virgem, pois, quando dizemos Ave Maria, parece que se lhe renova o prazer que sentiu quando lhe foi anunciado que havia sido eleita para Mãe de Deus. Mais, pela Ave-Maria mostramos que tomamos parte em sua felicidade, lembrando-lhe as suas grandezas. Disse a mesma divina Mãe a Santa Matilde, que nada lhe podia ser mais honroso e mais agradável do que a oferta frequente da saudação do Anjo.
Finalmente, a Ave-Maria é, depois da Oração Dominical, a mais útil para nós, porque, quem saúda Maria, será também por ela saudada. São Bernardo ouviu uma vez distintamente saudar-se por uma imagem da Virgem, que lhe disse: Ave, Bernarde; e a saudação de Maria, diz São Boaventura, consistirá numa graça especial.
“Com efeito, pergunta Ricardo, como poderá a divina Mãe negar a graça a quem a invoca com uma oração tão sublime?”.
Em suma, Maria mesma prometeu a Santa Gertrudes tantos auxílios para a hora da morte, quantas Ave-Marias ela tivesse rezado;
e são inúmeros os fatos que o confirmam.
II. A prática do obséquio tão excelente, tão aceito e tão útil, da Ave-Maria, seja: em primeiro lugar, recitar cada dia, pela manhã e à noite, ao levantar e deitar-se na cama, três vezes a Ave-Maria, com o rosto em terra ou ao menos de joelhos, acrescentando a cada Ave esta jaculatória: Pela tua pura e imaculada conceição, ó Maria, faze puro o meu corpo e casta a minha alma. Depois, pedir a bênção a nossa boa Mãe, conforme sempre praticava Santo Estanislau; e em seguida, pôr-se debaixo do manto de Nossa Senhora, pedindo-lhe que nos guarde de cair em pecado, naquele dia, ou noite que se segue. Para este fim, convém ter perto da cama uma bela imagem da Virgem.
Segundo, dizer o Angelus Domini ou o Anjo do Senhor, com as costumadas três Ave-Marias, pela manhã, ao meio dia e à noite. Os religiosos podem nesses três tempos renovar mentalmente os seus votos, como costumava fazer São Leonardo de Porto Maurício.
Em terceiro lugar, saudar a Mãe de Deus com uma Ave-Maria quando se ouve tocar o relógio, ou cada vez que se passa por diante de uma imagem da Virgem.
Finalmente, dizer sempre uma Ave-Maria, no princípio e no fim de cada ação, quer espiritual, como a oração, a confissão, a comunhão, a leitura espiritual e outras semelhantes; quer tempo-ral, como estudar, dar conselho, trabalhar, ir para a mesa, para a cama etc. Felizes as ações que ficarem compreendidas entre duas Ave-Marias. — Assim digamos também a mesma oração quando acordamos pela manhã, quando adormecemos, em qualquer tentação, perigo, ímpeto de ira e semelhantes. Amado leitor, pratica isso e verás a suma utilidade que para ti resultará daí.
“Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.

20 de junho de 2024

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, MODELO DE OBEDIÊNCIA

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Humiliavit semetipsum, factus oboediens usque ad mortem —
“(Jesus) se humilhou, feito obediente até a morte” (Fl 2, 8)
Sumário. São Paulo louva a obediência de Jesus Cristo, dizendo que obedeceu ao Pai Eterno até a morte. Mas no Santíssimo Sacramento vai mais longe, visto que quis fazer-se obediente até o fim do mundo e não somente ao Pai Eterno, senão a todos os sacerdotes da terra. Qualquer que seja o nosso estado, esforcemo-nos por imitar a obediência de Jesus, depositando em suas mãos a nossa vontade e pedindo-Lhe que disponha de nós conforme for do seu agrado. Animemo-nos à prática de tão bela virtude pela lembrança de que nunca uma pessoa obediente se condenou.
I. PARA UMA ALMA que se aplica à perfeição, não há coisa tão prejudicial como o reger-se pela própria vontade. Diz São Bernardo que o que se arvora em mestre de si mesmo, fazendo o que lhe dita o amor-próprio, se faz discípulo de um doido. — Ao contrário, o Espírito Santo diz que o sacrifício da própria vontade em seguir a obediência, é o sacrifício mais agradável a Deus; pelo que é este o meio mais apropriado para nos elevar em breve tempo à mais alta perfeição: Melior est oboedientia quam victimae (1Sm 15, 22) — “Melhor é a obediência do que vítimas”.
Eis por que Jesus Cristo, que pelo Pai divino nos foi dado por mestre e modelo de todas as virtudes, tomou tanto a peito o ensinar-nos a virtude de obediência, protestando que veio de propósito para sacrificar a Deus a vontade própria: Descendi de coelo, non ut faciam voluntatem meam, sed voluntatem eius, qui misit me (To 6, 38) — “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Com efeito, como diz São Paulo, Jesus “se fez obediente até à morte, e até à morte de cruz”. — Não contente, porém, em nos ter dado em toda a sua vida tão belos exemplos, quer ainda continuar depois da morte a no-los dar no Santissimo Sacramento, no qual quer obedecer não somente a seu Eterno Pai, mas também ao homem, e isto não mais até a morte, mas até o fim do mundo.
Ó prodígio! O Rei do céu desce do céu por obediência ao homem; e parece em seguida ficar sobre os altares só para obedecer aos homens. Ali fica sem movimento próprio: deixa-se ficar onde o colocam, seja que o exponham no ostensório, seja que o encerrem no cibório: deixa-se levar para onde querem levá-Lo, pelas ruas, pelas casas: deixa-se dar na comunhão a todos os que o querem, justos ou pecadores. Quando ele vivia na terra, como diz São Lucas (Lc 2, 51), obedecia a Maria Santíssima e a São José; mas neste Sacramento obedece a tantas criaturas, quantos sacerdotes há no mundo: Ego autem non contradico (Is 50, 5) — “Quanto a mim, não resisto”.
II. Se tu, que lês esta meditação, vives em comunidade, para melhor imitares os exemplos de Jesus Cristo, presta obediência exata às tuas Regras e aos teus superiores. Lembra-te de que a tua predestinação está ligada à observância da Regra. — Se és secular, observa exatamente a lei de Deus, os mandamentos da Igreja e os deveres do teu estado. Escolhe, além disso, um confessor certo e consulta-o sempre, mesmo nos negócios temporais de mais importância. Assim fazendo, estarás certo de fazer a vontade de Deus; e qualquer que seja o resultado das tuas empresas, não terás de dar conta a Deus. Diz São Francisco de Sales: Nunca um obediente verdadeiro se perdeu.
Meu amabilíssimo Jesus: adoro-Vos no sacramento do altar; graças Vos dou pelos exemplos de virtude, que nele me dais, e de hoje em diante deposito nas vossas mãos todos os meus interesses. Aceitai-me, e disponde de mim, por meio dos superiores, como quiserdes Não quero mais queixar-me das vossas santas disposições; sei que todas elas serão para meu bem, visto que todas provêm do vosso Coração amantíssimo. Basta que Vós as queirais, para eu também as aceitar no tempo e na eternidade. Fazei em mim e de mim tudo o que quiserdes; uno-me à vossa vontade toda santa, toda boa, toda bela, toda perfeita, toda amável. Ô vontade de Deus, como me sois cara! Quero sempre viver e morrer unido e estreitado convosco. Ó vosso agrado será o meu agrado; quero que os vossos desejos sejam os meus desejos.
Meu Deus, ajudai-me! Fazei que doravante eu viva somente para Vós; somente para querer o que Vós quereis, somente para amar a vossa bondade amabilíssima. Morra eu por vosso amor, já que morrestes por mim e Vos fizestes meu sustento. Detesto os dias em que, com grande desgosto vosso, fiz a minha vontade. Amo-vos, ó vontade de Deus, amo-vos tanto quanto amo a Deus, pois sois o próprio Deus. Amo-vos de todo o meu coração e me dou todo a vós. — Ó grande Mãe de Deus, Maria, alcançai-me a santa perseverança.

19 de junho de 2024

DANO QUE CAUSA AOS RELIGIOSOS A TIBIEZA

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Qui spernit modica, paulatim decidet — “Quem despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá” (Eclo 19, 1)
Sumário. São infelizes os religiosos que, sendo chamados à perfeição, fazem as pazes com as suas faltas. Nunca se santificarão e correm mesmo grande risco de se condenarem; porquanto o Senhor ameaça vomitá-los de sua boca e abandoná-los, permitindo que das faltas leves passem às faltas graves e à perda da graça divina e da vocação. Ó! Quantos destes infelizes estão agora queimando no inferno! Meu irmão, põe a mão na tua consciência. És tu porventura uma dessas almas tíbias e imperfeitas?
I. CONSIDERA A MISÉRIA do religioso que, depois de ter deixado a pátria, os parentes e o mundo com todos os seus prazeres, e depois de se ter dado a Jesus Cristo, consagrando-lhe a sua vontade, a sua liberdade e a si próprio, se expõe em seguida ao perigo de condenação, por ter caído numa vida tíbia e negligente. Não, não está longe de se perder o religioso tíbio, que foi chamado por Deus à sua casa para se fazer santo. Deus ameaça vomitá-lo e abandoná-lo, se não se emenda: Sed quia tepidus es, incipiam te evomere (Ap 3, 16). — Santo Inácio de Loyola, vendo um irmão leigo da sua Companhia tépido no serviço de Deus, chamou-o um dia e disse:
— Irmão, dize-me, que vieste fazer na religião?
— Eu vim servir a Deus, respondeu.
— Ó irmão, replicou o santo, se me tivesses dito que vieste servir a um cardeal, a um principe da terra, terias alguma desculpa; mas disseste que vieste servir a Deus, e é assim que o serves?
Diz o Padre Nieremberg que alguns são chamados por Deus a salvar-se unicamente como santos, de modo que, se depois não tratarem de se fazer santos, e quiserem salvar-se como imperfeitos, nem mesmo se salvarão. E Santo Agostinho acrescenta que estes ordinariamente ficam depois abandonados de Deus, que permite que das faltas leves passem depois às graves e à perda da graça divina e da vocação. — Santa Teresa de Jesus viu o lugar para ela preparado no inferno, se não se desprendesse de um afeto terreno, bem que não gravemente culpável. Qui spernit modica, paulatim decidet (Eclo 19, 1) — “Quem despreza as coisas pequenas, pouco a pouco cairá”.
Muitos querem seguir Jesus Cristo, mas de longe, como fez São Pedro, que, na prisão de Jesus no horto, o seguia de longe, diz São Matheus: Sequebatur eum a longe (Mt 26, 58). Mas assim fazendo, facilmente lhes acontecerá o que aconteceu a São Pedro, que, depois exposto à ocasião, negou a Jesus Cristo. — O tíbio se contentará com o pouco que faz por Deus; mas não se dará por contente o Senhor, que o chamará à vida perfeita; e em castigo da ingratidão, não só o privará dos favores especiais, mas permitirá às vezes a perdição do tíbio. Ubi dixisti sufficit, ibi periisti! — “Quando disseste: basta, começou a tua perdição”. A figueira do Evangelho foi destinada ao fogo somente porque não produzia fruto.
II. Desgraçado do religioso que, chamado à perfeição, faz as pazes com seus defeitos! Enquanto alguém detesta as suas imperfeições, há esperança dele se fazer santo; mas quando comete faltas e as despreza, então, diz São Bernardo, está perdida a esperança. Qui parce seminat, parce et metet (2Cor 9, 6) — “Quem semeia pouco, pouco colherá”. Para fazer um santo, não bastam as graças ordinárias; mas são precisas as extraordinárias. Como há de ser liberal o Senhor com os favores para com aquele que lhe regateia o seu amor? — De mais, para a santidade precisa-se de ânimo e força para vencer todas as repugnâncias; “e não julgue alguém, diz São Bernardo, que poderá chegar à perfeição, se não se tornar singular entre os outros na prática das virtudes: Perfectum non potest esse nisi singulare”.
Meu irmão, reflete aqui: para que deixaste o mundo e tudo o mais: para te fazer santo. Mas a vida assim tíbia e imperfeita que levas, será ela o caminho para a santidade? Santa Teresa animava suas filhas, dizendo-lhes: “Irmãs, tendes feito o mais; só vos resta a fazer o menos para serdes santas”. O mesmo te digo a ti: Já tens talvez feito o mais: deixaste a pátria, a casa, os parentes, os bens, os divertimentos; resta fazer o menos, para te fazer santo; faze-o.
Ah, meu Deus, não me vomiteis de vossa boca, embora o mereça, porque quero emendar-me. Reconheço que a minha vida assim descuidada não Vos pode contentar; reconheço que eu mesmo, com a minha tibieza, fecho a porta a tantas graças que desejareis conceder-me. Senhor, não me abandoneis ainda; continuai a usar comigo de piedade, já que quero levantar-me de tão miserável estado. Para o futuro quero estar mais atento em vencer as minhas paixões, em seguir as vossas inspirações, em não deixar por preguiça os meus deveres, senão cumpri-los com mais diligência. Quero, em suma, de hoje em diante, fazer quanto possa para Vos agradar; não quero descuidar-me de coisa alguma que eu saiba ser do vosso gosto.
Vós, ó meu Jesus, tendes sido tão generoso comigo em conceder-me tantas graças e de boa vontade destes por mim vosso sangue e a vida. Não é justo que eu continue a ser reservado para convosco. Vós mereceis toda a honra, todo o amor; mereceis que se sofra com alegria toda a pena, todo o trabalho para Vos agra-dar. Mas, meu Redentor, conheceis a minha fraqueza, ajudai-me com a vossa poderosa mão; em Vós confio. — Imaculada Virgem
Maria, vós, que me ajudastes a deixar o mundo, ajudai-me a me vencer a mim mesmo e a me fazer santo. Fazei-o pelo amor de
Jesus Cristo.

18 de junho de 2024

A SENTENÇA DA ALMA CULPADA NO JUÍZO PARTICULAR

Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório. 

Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolo et angelis eus — “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está aparelhado para o diabo e os seus anjos” (Mt 25, 41)
Sumário. Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Sem demora, o divino Juiz pronunciará contra ela a sentença de condenação eterna — Aparta-te de mim, maldita, para ires arder eternamente no fogo. Meu irmão, agora vivemos em segurança e com indiferença ouvimos falar do juízo; mas quantos há que assim viveram e agora estão no inferno! E quem nos assegura que o mesmo não sucederá conosco? Se a morte nos surpreendesse na primeira noite, qual seria a nossa sentença?
I. DESGRAÇADA DA ALMA cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Tendo um dos cortesãos de Filipe II dito uma mentira a seu amo, este o repreendeu dizendo: “É assim que me enganas?”. O desgraçado, ao voltar à casa, morreu de pesar. Que fará, pois, que responderá o pecador a Jesus Cristo, seu Juiz?
Fará como aquele homem do Evangelho que, apresentando-se no banquete nupcial sem o vestido conveniente, se calou, não sabendo que responder: At ille obmutuit (Mt 22, 12). O próprio pecado lhe fechará a boca e o cobrirá de tal forma de vergonha, que, no dizer de São Basílio, a confusão será então para o pecador um tormento mais horrível que o fogo do inferno.
O divino Juiz pronunciará sem demora a sentença inapelável:
Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum — “Aparta-te de mim, maldito, e vai arder para sempre no fogo eterno”. Ó, que voz aterradora será esta! Santo Anselmo diz que, “quem não treme a uma voz tão terrível, não dorme, mas está morto”. E Eusébio acrescenta que “tamanho será o espanto dos pecadores ao ouvirem a sua condenação, que morreriam de novo, se pudessem morrer outra vez”.
Então já não há suplicar, já não há recorrer a intercessores. Com efeito, a quem recorrerão? Pergunta São Basílio. Porventura a Deus, a quem desprezaram? Aos santos? Ou a Maria? Não, pois que então as estrelas, que são os santos, nossos advoga-dos, cairão do céu; e a lua, quer dizer Maria, perderá a sua luz (Mt 24, 29). Diz Santo Agostinho: “Maria fugirá da porta do paraíso”. — Ó Deus, exclama São Tomás de Vilanova, com que indiferença ouvimos falar do juízo, como se não pudesse ser nossa a sentença de condenação, ou como se não tivéssemos de ser julgados! Ó! Que demência é viver seguro em tamanho perigo! Se a morte nos colhesse neste instante, que sorte havia de ser a nossa?
II. Meu irmão, assim te avisa Santo Agostinho, não digas: E possível que Deus me queira mandar ao inferno? Não fales assim, diz o santo, porque tantos réprobos não pensavam que seriam lançados ao inferno; mas afinal veio a hora do castigo: Finis venit, venit finis; ... nunc complebo furorem meum in te, et iudicabo (Ez 7, 6 e 8) — “O fim vem, vem o fim; ... agora satisfarei em ti o meu furor e te julgarei”. — Como observa São Boaventura, devemos imitar os negociantes prudentes que, para não abrirem falência, revistam e ajustam muitas vezes as contas. Devemos, acrescenta Santo Agostinho, ajustar as contas antes do juízo, porque agora podemos aplacar o juiz, mas não na hora do juízo. Devemos, numa palavra, dizer com São Bernardo: Meu divino Juiz, quero que me julgueis e me castigueis agora durante a vida, porque ainda é tempo de misericórdia e me podeis perdoar, mas, depois da morte, é só tempo de justiça: Volo indicatus praesentari, non iudicandus.
Ó meu Deus, reconheço, que se agora Vos não aplaco, não terei então tempo para Vos aplacar. Como, porém, Vos aplacarei eu, que tantas vezes desprezei a vossa amizade, por miseráveis prazeres? Paguei com ingratidão o vosso amor infinito. Como pode uma criatura satisfazer dignamente pelas ofensas feitas a seu Criador? Meu Senhor, graças Vos dou que a vossa misericórdia me forneceu o meio de Vos aplacar e satisfazer. Ofereço-Vos o sangue e a morte de Jesus, vosso Filho, e desde já vejo tranquilizada e superabundantemente satisfeita a vossa justiça. É preciso, porém, ajuntar a isso o meu arrependimento. Ah! Sim, meu Deus, de todo o coração me arrependo de todas as injúrias que Vos fiz.
Julgai-me agora, ó meu Redentor. Detesto, mais que todos os males, os desgostos que Vos dei. Amo-Vos sobre todas as coisas, de todo o meu coração, e proponho amar- Vos sempre e antes morrer que ofender-Vos. Prometestes perdoar a quem se arrepende; pois bem julgai-me agora e perdoai-me os meus pecados. Aceito a pena que mereço; mas restabelecei-me na vossa graça, e conservai-me nela até a morte. Assim espero. — Ó Maria, minha Mãe, agradeço-Vos tantas misericórdias que me impetrastes; dignai-vos continuar a proteger-me até o fim.

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