10 de maio de 2024

NOVENA DO ESPÍRITO SANTO.

Novena meditada de Santo Afonso Maria de Ligório. 

A novena do Espírito Santo é a principal de todas, embora tenha sido celebrada a primeira pelos santos Apóstolos e por Maria Santíssima no Cenáculo, e enriquecido com muitas maravilhas e dons excelentes, e principalmente com o dom do próprio Espírito Santo, que é um dom que Jesus Cristo nos merece com a sua paixão. Assim nos fez saber o próprio Jesus, quando disse aos seus discípulos, que se não tivesse morrido não poderia enviar-nos o Espírito Santo: «Si enim non abiero, Paraclitus non veniet ad vos; si autem abiero, mittam eum ad vos" (I. 16. 7). Sabemos então bem pela fé que o Espírito Santo é amor, que o Pai e o Verbo Eterno carregam mutuamente; e por isso o dom do amor, dispensado pelo Senhor às nossas almas, e que é o maior de todos os dons, é atribuído especialmente ao Espírito Santo, como fala São Paulo: “Caritas Dei difusa est in cordibus nostris per Spiritum Sanctum, qui datus est nobis” (Rm 5.5). Portanto, é oportuno que nesta novena consideremos sobretudo as grandes qualidades do amor divino, para que desejemos obtê-lo, e procuremos com exercícios devotos, e especialmente com orações, participar dele, pois Deus o prometeu para aqueles que o pedem humildemente: “Pater vester de caelo dabit spiritum bonum petentibus eum” (Lc 11. 13).

PRIMEIRO DIA

O AMOR É FOGO QUE ABRASA

I. DEUS ORDENOU NA antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar: Ignis autem in altari semper ardebit (Lv 6, 12). Diz São Gregório que os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo amor arda sem cessar. Por isso o Eterno Pai, não satisfeito de nos ter dado Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua morte, quis dar-nos ainda o Espírito Santo, para que habitasse em nossas almas, e as conservasse continuamente abrasadas de amor.
Jesus mesmo declarou que descera à terra exatamente para inflamar com este fogo sagrado os nossos corações, e que o seu único desejo era vê-lo aceso: Ignem veni mittere in terram, et quid volo, nisi ut accendatur? (Lc 12, 49). Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e ingratidões dos homens, logo que subiu ao céu, nos enviou o Espírito Santo. — Assim, ó Redentor amadíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos amais sempre?
Pela mesma razão o Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob a forma de línguas de fogo: Et apparuerunt illis dispartitae linguae, tamquam ignis (At 2, 3) — “E apareceram-lhes repartidas umas como que línguas de fogo”. Por isso também a Igreja nos faz rezar com estas palavras: “Ó Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a terra e que desejou tão ardentemente ver brilhar nela”. — Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem grandes coisas para Deus: a amar os inimigos, a desejar os desprezos, a despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: Basta. A alma que ama a Deus, quanto mais faz por seu Amado, mais quer fazer ainda para mais lhe agradar e ganhar mais e mais a sua afeição.
II. O Espírito Santo acende o fogo do amor divino por meio da meditação: In meditatione mea exardescet ignis (Sl 38, 4) — Na minha meditação se acenderá o fogo". Se então desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha em que o coração se abrasa neste ardor celeste.
Meu Deus, até aqui nada fiz por Vós, que tão grandes coisas haveis feito por mim. Ah! Quanto a minha frieza Vos deve mover a rejeitar-me! Peço-Vos, ó Espírito Santo: Fove quod est frigidum — “Aquecei o que está frio”. Livrai-me da minha frieza e inspirai-me um grande desejo de Vos agradar. Renuncio a todas as minhas satisfações, e antes quero morrer do que dar-Vos o menor desgos-to. — Aparecestes sob a forma de línguas de fogo; consagro-Vos a minha língua, para que não Vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para Vos louvar e dela me tenho servido para Vos ultrajar e levar os outros também a ofender-Vos! Arrependo-me de toda a minha alma.
Ah! Pelo amor de Jesus Cristo, que na sua vida Vos honrou tanto com a sua língua, fazei com que de agora em diante não cesse de Vos honrar, celebrando vossos louvores, invocando-Vos muitas vezes, falando da vossa bondade e do amor infinito que mereceis.
Amo-Vos, meu soberano bem; amo-Vos, ó Deus de amor. — Ó
Maria, sois vós a Esposa mais querida do Espírito Santo; obten-de-me este fogo divino.


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