Meditação de Santo Afonso Maria de Ligório.
Sumário. De todos os bens que temos recebido de Deus, não somos donos, senão simplesmente administradores; e na hora da morte teremos de dar contas exatas a Jesus Cristo, o juiz inexorável. É o que nos ensina a parábola proposta no Evangelho deste dia. Examinemos, pois, que uso temos feito até hoje dos talentos recebidos e dos bens da graça, e se acharmos que estivemos em falta, tomemos a resolução de nos emendar quanto antes. Quem sabe, meu irmão, dentro de que breve tempo se nos dirá também: Redde rationem — “Dá conta”?
I. DOS BENS QUE temos recebido de Deus, nós não somos donos, de maneira que possamos dispor deles a nosso bel-prazer, mas somente administradores. Devemos, pois, empregá-los segundo a vontade de Deus e dar à hora da morte conta deles a Jesus Cristo, o juiz inexorável. — É isto o que, no dizer dos Santos Padres, significa a parábola que no Evangelho deste dia o Senhor propõe à nossa consideração.
“Havia um homem rico, diz Jesus, que tinha um administrador, do qual lhe denunciaram que dissipava seus bens. Chamando-o, disse-lhe: Que ouço dizer de ti? Dá conta de tua gestão, porque daqui em diante não poderás mais ser administrador”.
Pára aqui um pouco e considera o rigor do juízo divino. Os santos, posto que tivessem feito o melhor uso possível dos talentos que lhes foram confiados e os houvessem feito frutificar, uns dois por um, outro cinco, outro dez (Lc 19, 16); posto que tivessem empregado todo o tempo da sua vida em preparar o livro das contas, todavia, quando estavam para passar desta vida para a eternidade, julgaram nada terem feito e tremiam.
Assim tremia Santa Maria Madalena de Pazzi, que respondeu ao confessor que a animava: “Ah, padre, é coisa terrível o ter que comparecer perante o tribunal de Jesus Cristo!”. Tremia Santo Agatão depois de ter passado tantos anos no deserto a fazer penitência e dizia aos que lhe cercavam o leito: “Que será de mim quando for julgado?”. Tremia o Venerável Luís da Ponte, e tremia tanto que fazia também tremer o quarto onde estava. — E tu, meu irmão, que dizes? Que fazes? Se neste momento o Senhor te deixasse morrer e te citasse a seu tribunal, que havias de responder a este terrível: Redde rationem — “Dá conta”?
II. Continua a parábola dizendo que o feitor infiel, vendo o grande risco que corria de cair em miséria extrema, logo pensou em reparar o mal feito. E posto que o expediente de que lançou mão fosse todo em seu proveito, com prejuízo do dono, este, contudo, o elogiou, por ter agido com prudência. — Da mesma presteza devemos nós também usar, se não quisermos merecer a repreensão que “os filhos deste século são mais precavidos que os filhos da luz”.
Por isso exorta-nos o Espírito Santo: Quodcumque facere potest manus tua, instanter operare (Ecl 9, 10) — “Obra com presteza tudo quanto pode fazer tua mão”. Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje; porque o dia de hoje passa e amanhã virá talvez a morte que te impossibilitará de fazer algum bem e de remediar o mal. Numa palavra, mister é que prepares as contas, antes que venha o dia das contas. — Entretanto, conclui o Evangelho, se puderes dar esmolas, com as riquezas iníquas fazei dos pobres os teus amigos; para que quando necessitares, te obtenham de Deus a graça de uma boa morte, e assim te recebam nos tabernáculos eternos.
Meu amabilíssimo Jesus, graças Vos dou pelas luzes e pelo tempo que agora me concedeis, para reparar as desordens da minha vida passada. Desgraçado de mim! Dos bens da alma e do corpo, que me destes a fim de que me servisse deles para Vos amar, e alcançasse a minha eterna salvação, eu abusei para Vos ultrajar e me precipitar no inferno. Senhor, detesto a minha ingratidão mais do que todos os outros males; peço-Vos perdão e prometo que não tornarei mais a ofender-Vos. Não, meu Jesus, não quero mais ofender-Vos, quero amar-Vos sempre com todas as minhas forças. — “Vós, porém, ó Senhor, concedei-me, pela vossa misericórdia, que meu espírito cogite sempre o que é reto e faça o que é justo: para que, já que não posso subsistir sem Vós, viva sempre conforme a vossa vontade” — + Doce Coração de Maria, sede minha salvação.
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